Comumente, médicos relatam que se o paciente sai de sua consulta sem um pedido de exame, o paciente não se sente plenamente atendido.
O médico italiano, Marco Bobbio, informa que a lógica de alguns pacientes é essa: “quanto mais exames eu fizer, mais dados sobre meu estado de saúde eu terei à disposição e, portanto, mais condições de evitar eventuais doenças” (1). O problema, segundo Bobbio, é que há um número elevado de exames positivos, mesmo quando a pessoa não tem a doença, e também de exames negativos, quando a pessoa tem a doença. Além disso, alguns exames apresentam risco à saúde, como os que expõem o paciente a radiações e aumentam de “modo exponencial o risco de desenvolver tumores” (2).
Os pacientes, enquanto sujeitos de direitos, têm responsabilidade em relação ao seu próprio cuidado, por isso é importante que se atentem para a necessidade terapêutica dos exames.
Se, por um lado, campanhas de conscientização sobre a prevenção de doenças é essencial, por outro, há que se tomar cuidado com “check-ups e exames sem a presença de sintomas ou sem evidências científicas de que funcionem para rastrear doenças em certas faixas etárias” (3).
O cuidado em saúde do paciente é compartilhado com o médico, portanto, o paciente não deve se eximir de sua responsabilidade de se manter atento quanto à realização de exames desnecessários ou sem evidências científicas, da mesma forma, é importante que os médicos não busquem impressionar seus pacientes por meio da proposição da melhor tecnologia, mesmo quando não adequada para aquele paciente (4).
O direito aos cuidados em saúde seguros para o paciente vem acompanhado da busca pela informação sobre exames e o rechaço da ideia de “quanto mais se fizer, melhor”.
(1) BOBBIO, Marco. O doente imaginado. São Paulo: Bamboo, 2014. p.34.
(2) BOBBIO, Marco. O doente imaginado. São Paulo: Bamboo, 2014. p.34.
(4) BOBBIO, Marco. O doente imaginado. São Paulo: Bamboo, 2014. p.35.